Se você é pai ou mãe de uma criança com dislexia, provavelmente já presenciou aquele momento doloroso em que seu filho olha para um livro e suspira, acreditando que nunca vai conseguir ler como os outros.
Esses momentos partem o coração de qualquer pai, mas eles também revelam uma verdade fundamental: para crianças com dislexia, a batalha não é apenas com letras e palavras.
É com a própria percepção de quem elas são e do que são capazes. A autoestima se torna um campo de batalha onde cada dificuldade de leitura pode ser interpretada como uma evidência de incapacidade.
O lado bom é que a autoestima de uma criança disléxica não está condenada a ser baixa. Na verdade, muitas das características que acompanham a dislexia (criatividade excepcional, pensamento inovador, capacidade de ver soluções únicas para problemas) são sementes de uma autoestima robusta e autêntica.
A jornada para construir uma autoestima sólida em uma criança disléxica não é sobre negar as dificuldades ou fingir que elas não existem.
É sobre recontextualizar essas dificuldades dentro de uma narrativa maior sobre quem seu filho é: uma narrativa que celebra sua singularidade, reconhece seus pontos fortes, e vê os desafios como oportunidades de crescimento.
A relação entre dislexia e autoestima é complexa e profundamente interconectada. Crianças disléxicas frequentemente enfrentam o que os psicólogos chamam de “discrepância entre habilidade e desempenho”. Elas sabem que são inteligentes, mas quando se trata de tarefas acadêmicas tradicionais, especialmente aquelas envolvendo leitura e escrita, seu desempenho não reflete sua verdadeira capacidade intelectual.
Esta discrepância cria uma confusão cognitiva e emocional profunda. A criança pode começar a questionar sua própria percepção de suas habilidades, desenvolvendo o que os especialistas chamam de Desamparo Aprendido — uma sensação aprendida de que, não importa o quanto se esforce, ela não conseguirá ter sucesso em certas áreas.
Em um sistema educacional que valoriza primariamente habilidades de leitura e escrita tradicionais, crianças disléxicas podem se sentir constantemente “medidas” por suas áreas de maior dificuldade.
Comparações inevitáveis com colegas e a pressão constante para “acompanhar” podem criar um ambiente onde a criança se sente fundamentalmente inadequada.
Além disso, a natureza “invisível” da dislexia pode criar desafios únicos para a autoestima. Diferentemente de outras diferenças de aprendizagem que podem ser mais óbvias, a dislexia frequentemente é mal compreendida por outros.
A criança pode ouvir comentários como “você só precisa se esforçar mais” ou “você está sendo preguiçoso”, que não apenas são incorretos, mas também profundamente prejudiciais para a autoimagem.
Reconhecer os sinais de baixa autoestima em crianças disléxicas é fundamental para poder intervir de forma eficaz. Um dos sinais mais comuns é a evitação de atividades relacionadas à leitura ou escrita.
Uma criança que gostava de histórias pode começar a recusar livros, ou uma criança que costumava ser entusiasmada sobre escola pode começar a inventar desculpas para não ir.
Mudanças no comportamento social também podem indicar problemas de autoestima. Uma criança que se torna retraída, que para de participar em atividades em grupo, ou que evita situações onde pode ser “exposta” academicamente pode estar lutando com sentimentos de inadequação.
Comentários autodepreciativos são sinais claros de que a autoestima está sendo afetada. Frases como “eu sou estúpido”, “eu nunca vou conseguir”, ou “todo mundo é melhor que eu” revelam que a criança internalizou uma narrativa negativa sobre suas habilidades.
Perfeccionismo excessivo pode ser outro sinal de baixa autoestima, embora possa parecer contraditório. Algumas crianças disléxicas desenvolvem padrões impossivelmente altos para si mesmas como uma forma de compensar suas dificuldades percebidas.
Mudanças físicas também podem acompanhar problemas de autoestima.
Dores de cabeça ou de estômago frequentes, especialmente em dias de escola ou antes de atividades acadêmicas, podem ser manifestações somáticas de ansiedade e estresse relacionados à autoestima.
Construir autoestima positiva em uma criança disléxica requer uma abordagem multifacetada que vai muito além de simplesmente dizer “você é inteligente”. Uma das estratégias mais fundamentais é ajudar a criança a identificar e desenvolver suas áreas de força.
Toda criança disléxica tem talentos únicos. Pode ser arte, música, esportes, habilidades sociais, pensamento criativo, ou capacidade de resolver problemas.
Estabelecer metas realistas e alcançáveis é outra estratégia muito importante. Em vez de focar em objetivos grandes e que poderiam sobrecarregar a criança, como “melhorar na leitura”, divida o progresso em pequenos passos mensuráveis.
Quando a criança alcança esses objetivos menores, ela experimenta sucesso genuíno que constrói confiança para enfrentar desafios maiores.
A linguagem que usamos para falar sobre dislexia e desafios acadêmicos tem um impacto profundo na autoestima da criança. Em vez de focar no que a criança “não consegue” fazer, adapte as conversas para focar no que ela “está aprendendo” a fazer.
Esta mudança sutil na linguagem ajuda a criança a ver desafios como temporários e superáveis.
Celebrar o esforço tanto quanto os resultados é fundamental para construir uma mentalidade de crescimento. Quando uma criança sabe que seu esforço é valorizado independentemente do resultado, ela se torna mais disposta a tentar coisas novas e a persistir através de dificuldades.
Criar oportunidades para que a criança ajude outras pessoas também ajuda demais.
Quando uma criança disléxica pode ensinar algo a um irmão mais novo, ajudar um colega com um projeto, ou contribuir para a família de alguma forma significativa, ela experimenta o sentimento de ser valiosa e capaz.
A família desempenha um papel central na formação da autoestima de uma criança disléxica. Um dos aspectos mais importantes do apoio familiar é a aceitação incondicional.
A criança precisa saber que é amada e valorizada exatamente como é, não apesar de sua dislexia, mas incluindo sua dislexia como parte de quem ela é.
A educação da família sobre dislexia é fundamental. Quando todos os membros da família entendem o que é dislexia e como ela afeta a criança, eles podem responder de forma mais empática e útil.
Criar um ambiente doméstico que celebra diferentes tipos de inteligência e habilidades é crucial. Se a família valoriza apenas conquistas acadêmicas tradicionais, a criança disléxica pode se sentir constantemente inadequada.
No entanto, se a família reconhece e celebra criatividade, habilidades práticas, inteligência emocional, humor, bondade, e outras qualidades, a criança tem múltiplas oportunidades de se sentir valorizada.
A resiliência é uma qualidade fundamental que pode proteger a autoestima de uma criança disléxica ao longo de sua vida.
Uma abordagem eficaz é identificar atividades onde a criança pode experimentar uma progressão clara e mensurável de habilidades. Isso pode incluir esportes, artes, música, construção, culinária, ou qualquer área onde a criança demonstre interesse e aptidão natural.
Projetos de longo prazo podem ser particularmente valiosos para desenvolver resiliência. Quando uma criança trabalha em algo ao longo de semanas ou meses, seja construindo um modelo, aprendendo uma música, ou cultivando um jardim, ela aprende que grandes conquistas vêm através de esforço sustentado ao longo do tempo.
Documentar e celebrar esses sucessos de maneiras tangíveis pode amplificar seu impacto na autoestima.
Isso pode incluir manter um portfólio de trabalhos artísticos, gravar vídeos de performances musicais, ou simplesmente manter um diário de conquistas.
A forma como celebramos o progresso e as conquistas de uma criança disléxica pode ter um impacto profundo em sua autoestima. Para crianças disléxicas, o progresso frequentemente acontece em incrementos menores e pode ser menos linear do que para outras crianças.
Uma abordagem eficaz é focar na celebração do esforço e estratégias, não apenas nos resultados.
Quando uma criança tenta uma nova estratégia de leitura, persiste através de uma passagem difícil, ou pede ajuda quando precisa, esses comportamentos merecem reconhecimento.
É importante também celebrar progressos que podem não estar diretamente relacionados à leitura, mas que demonstram crescimento em áreas que apoiam o desenvolvimento acadêmico. Isso pode incluir melhorias na organização, aumento da confiança para fazer perguntas, desenvolvimento de habilidades sociais, ou demonstração de criatividade.
A documentação visual do progresso pode ser particularmente poderosa para crianças disléxicas, que frequentemente são pensadores visuais. Isso pode incluir gráficos que mostram livros lidos ao longo do tempo, coleções de trabalhos artísticos que demonstram desenvolvimento de habilidades, ou fotografias da criança engajada em atividades de aprendizagem.
Preparar uma criança disléxica para o futuro com confiança requer uma abordagem que equilibra realismo sobre desafios contínuos com otimismo sobre possibilidades e potencial.
Uma parte fundamental desta preparação é ajudar a criança a desenvolver habilidades de auto-advocacia que serão essenciais na vida adulta.
É também importante ajudar a criança a explorar e desenvolver seus talentos únicos e áreas de interesse. Muitas pessoas disléxicas encontram sucesso extraordinário em campos que aproveitam suas habilidades naturais de pensamento criativo, resolução de problemas, e perspectiva única.
Desenvolver habilidades de vida prática é outro aspecto importante da preparação para o futuro. Isso pode incluir habilidades de organização, gestão de tempo, tecnologia assistiva, e estratégias de estudo que a criança pode usar independentemente.
É valioso também expor a criança a histórias e exemplos de adultos disléxicos bem-sucedidos em uma variedade de campos. Estes exemplos ajudam a expandir a visão da criança sobre o que é possível para seu futuro.
Agora, você já entendeu como a autoestima pode ser um dilema para crianças disléxicas, mas tem uma forma de mudarmos isso juntos.
Ajudar essas crianças a ler e desenvolver a confiança foram algumas das principais motivações por trás do projeto Palavra Acolhe.
Como idealizadora do projeto, compreendi profundamente que a autoestima de uma criança disléxica está intimamente ligada às suas experiências com a leitura.
Quando uma criança luta constantemente com textos que não foram pensados para ela, cada tentativa de leitura pode se tornar mais uma confirmação de que “ela não é boa o suficiente”.
Mas quando essa mesma criança tem acesso a histórias especialmente adaptadas — com tipografia que fala ao seu olhar disléxico, espaçamento que facilita a navegação visual, e narrativas que celebram diferentes formas de ser inteligente — algo mágico acontece.
Cada página virada se torna uma pequena vitória, cada história lida se transforma em evidência concreta de que ela é, sim, capaz de ler e se encantar com as palavras.
Quando uma criança disléxica consegue se perder em uma história, quando ela ri com os personagens e torce por seus triunfos, quando ela fecha o livro com aquele sorriso de satisfação de quem completou uma jornada, ela está vivenciando exatamente o tipo de experiência positiva que discutimos ao longo deste artigo.
Cada livro do projeto é uma declaração poderosa de que dislexia não é barreira, mas sim uma forma diferente de aprender e se encantar pelas páginas.
Quando você apoia o Palavra Acolhe, você está investindo diretamente na autoestima e no futuro de crianças que merecem descobrir o prazer da leitura.
Clique aqui para conhecer o projeto Palavra Acolhe e descubra como fazer parte desta transformação agora mesmo. Porque toda criança disléxica merece experimentar a alegria de se sentir competente, capaz, e verdadeiramente acolhida no mundo das palavras.